"A pintura do carioca Pingarilho, diriam os franceses, é o seu "Violon d'Ingres", isto é, ele é capaz de exercer com talento uma atividade paralela à sua profissão principal. Esta expressão se refere ao extraordinário retratista Jean Dominique Ingres, que era também um exímio violinista. Mas ele é muito mais do que esta simples observação. É um eclético arquiteto, professor, músico, pintor e escultor e, talvez, mais alguma coisa que desconheço – no qual todas as suas manifestações artísticas convergem para uma profícua e sólida produção, o que torna difícil qualquer conotação a seu respeito. Trabalhando as cores claras e as suas tonalidades, com destreza e sensibilidade, numa procura crescente de luminosidade, o artista vai englobando objetos simples, do nosso dia-a-dia – garrafas, copos, flores, etc. – posicionando-se nessas circunstâncias numa região fronteiriça entre o figurativo e a abstração, sem entretanto, postular qualquer ideia pré-concebida. Pingarilho é o artista que alcança a sua maturidade livre dos preconceitos ou das formulações estereotipadas, identificando plenamente com sua obra, que reflete numa visão onírica e sensual, um "état d'esprit", que o espectador não necessita racionalizar. Basta olhar e sentir a mesma transmissão de tranquilidade inspirada pelo artista e que transborda no jogo entre as formas e as cores."

"A pintura de Pingarilho passa longe de qualquer tentativa de querer enquadrá-la à sua formação intelectual. Tudo bem, ele é um arquiteto que exerce sua profissão, compõe músicas no mais puro estilo bossanovista, mas não pode negar que é fascinado por cores e formas. Principalmente pela natureza, sua maior fonte de inspiração. Pois dela, da natureza sem a qual não pode viver, que esse artista carioca extrapola suas emoções estéticas, dando pouca ou quase nenhuma importância se a linguagem que expressa é abstrata ou figurativa. Pingarilho sabe como poucos dosar essas duas linguagens, e delas extrair o mais essencial: a plasticidade das cores. Ao projetar a obra, deixa gravada emoções que, sutilmente, cada um de nós, espectadores, poderemos sentir. Basta uma leitura silenciosa de cada uma das pinturas porque, para o artista, a suavidade dos azuis, dos vermelhos, dos tons dourados e prateados que é a essência de suas telas, quer transmitir exatamente isso: silêncios interiores. Como a vida."

"Pingarilho é um eclético que passeia entre um figurativo desconstruído – é assim que se diz? – e um abstracionismo que não escapa da realidade. A variação é uma síntese de seus sentimentos e experiências vitais, não uma ideologia pintada. Arte que exprime o artista. Sincera. Com base na disciplina da qual o arquiteto não pode se afastar senão a casa cai. Pintura também. Mas quase ninguém percebe. Não parece, mas precisa ter coragem para fazer pintura bonita no momento da suprema valorização histórica da arte feia."

"Junte arquitetura e música em iguais partes de talento. Deixe secar no sol das emoções. Uma vez pronto, sirva aos olhos do bom gosto. Foi o que VENTURA fez em suas edições de Maio de 1998 e Novembro de 2006, apresentando a sofisticada pintura de PINGARILHO, um nome definitivo navegando suavemente na melhor qualidade da arte brasileira."